Atividade física: menos técnica e mais entendimento humano


                                                                                                              Cristiano Parente*
 Nos últimos dias, um estudo sobre a eficácia da realização de um minuto de intenso exercício físico foi amplamente divulgado pela imprensa nacional e internacional. O novo método, tido como ideal para quem não gosta ou não dispõe de tempo para a prática de atividade, entretanto, chama a atenção para algo muito mais complexo e profundo. Coloca a sociedade para pensar naquilo que deseja pra si.
É cada vez mais comum a divulgação e repercussão desse tipo de informação. Quanto tempo de exercício fazer? Um minuto é válido? Três vezes por semana, talvez? Sempre se discutiu a real necessidade que temos de exercício: duração, frequência, intensidade, formato, etc. A grande verdade é que a busca por minutos preciosos no dia a dia tão acelerado, somados à falta de capacidade de se pensar modelos de atividades físicas que não fossem tão chatos tornaram essa necessidade de encurtar ou diminuir o tempo quase numa obsessão.
Se pararmos para uma reflexão, observaremos que estamos tentando empurrar o exercício goela abaixo da sociedade, num formato chato e nada agradável, que dói, faz as pessoas suarem e que, somado à falta de entendimento, se transforma em desmotivação. Isso faz com que muitos desistam sem ter permanecido tempo suficiente para obter resultado. E nessa toada, pesquisadores buscam soluções para que a atividade física não dure muito, para que as pessoas possam se livrar dela rapidamente.
A resposta ideal para a pergunta sobre quanto tempo de exercício cada um precisa fazer é mais ou menos o tempo de sua vida. Sim. Temos que fazer exercício durante a vida toda. Como exercício, entenda-se a realização de movimentos, que não necessariamente precisam ser dentro da academia ou com roupa de ginástica.O movimento pode ser realizado no trabalho, quando existe alguma demanda física acima da sua média normal de vida. Também pode ser durante seus deslocamentos, seja para o trabalho, seja para a escola, ou ainda em clubes, parques ou outros ambientes que vão além da academia.
É preciso mudar a forma como se pensa e, principalmente, como se transmite a atividade física. Pense: quando faz algo que lhe agrada, diverte e que te gera boas sensações, se preocupa em realizar tal ação no menor espaço possível de tempo ou gostaria de fazê-las por mais tempo, mais vezes e com mais calma? Para os exercícios, porém, o que acontece é justamente o oposto.
O problema está no modo como as atividades são empurradas para as pessoas. Sem a exata compreensão sobre a importância, os benefícios e a dinâmica envolvida na realização de cada movimento, a atividade fica chata, cansativa, repetitiva, além de dolorida, um verdadeiro convite ao sedentarismo.
A prática de atividade física pode representar a diferença entre uma vida mais saudável e divertida e uma vida com mais doenças e menos qualidade. Pode, inclusive, representar a diferença de, lá na frente, viver alguns anos mais. A atividade física tem imensurável valor vital. Mas, para que possa gerar todo esse valor, ela precisa ser regular, ser realizada ao longo de toda uma vida. E o grande segredo para fazer algo de maneira regular ao longo de tanto tempo é torna-lo agradável, e não menos pior. É pensar em transformar a experiência do exercício em compreensível e prazerosa.
Os profissionais de ponta da área de educação física estão realizando essa transformação de maneira muito inteligente, tornado o exercício amigável para o usuário, com conteúdo, psicologia, comunicação, marketing, gestão inteligente e, principalmente, pensando em pessoas antes de técnicas.
É possível fazer com que todos sintam vontade de praticar exercício. Basta adaptar a atividade para as pessoas e não as pessoas para a atividade. O que não é possível é querer que façam algo que não gostem de maneira obrigada e que está provado cientificamente que não gera resultado consistente.
Quando os profissionais se especializam em pessoas e não primordialmente em técnicas, principalmente com aquelas que têm dificuldade de começar e dar sequência no exercício – e que representam mais de 90% da população mundial -, os resultados conseguidos em termos de conversão em definitivamente ativas são absolutamente incríveis.
Essa transformação é fundamental. Enquanto apenas as técnicas de treinamento forem estudadas se pensando em efetividade numérica pura e simplesmente pela fisiologia que seria a ideal do corpo, como se as pessoas fossem máquinas, nada se conseguirá.
*Cristiano Parente é professor e coach de educação física, eleito em 2014 o melhor personal trainer do mundo em concurso internacional promovido pela Life Fitness. É CEO da Koatch Academia e do World Top Trainers Certification, primeira certificação mundial para a atividade de educador físico.


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