Males da privação de sono para os estudantes adolescentes
Adolescentes amam e
precisam dormir. Nós amamos nossos adolescentes. Vamos defender o que eles
merecem: uma boa noite de descanso
Não é nenhum segredo que os adolescentes amam
dormir. E que a rotina matinal em diversas residências não é um ritual muito
agradável: despertador, uma, duas, três vezes, pai e mãe gritando de manhã,
logo cedo: “Levanta, menino!”.
Esse é um quadro muito comum, pois muitas escolas de ensino médio
começam suas atividades às 07:00 ou mais cedo. Para os alunos, isso significa
acordar antes do que a maioria dos adultos para ir ao trabalho. “E para os
adolescentes em crescimento, esta marcha diária é mais do que um aborrecimento.
Inúmeros estudos e especialistas estão soando o alarme: o sono insuficiente
está colocando em risco a saúde dos alunos e a própria aprendizagem”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP
36.349).
No mês passado, nos EUA, a Associação Nacional dos
Enfermeiros Escolares e a Sociedade de Enfermeiros Pediátricos se uniram à
Academia Americana de Pediatria e emitiram uma recomendação
vital
para que
as escolas de ensino médio não iniciem sua atividades antes de 08:30, visando
acomodar os ciclos de sono naturais dos adolescentes. Eles são biologicamente
programados para dormir e acordar mais tarde. Segundo as entidades de saúde,
87% dos estudantes do ensino médio são cronicamente privados de sono. “E essa
privação de sono regular coloca os adolescentes em maior risco de depressão,
ansiedade e obesidade, bem como de acidentes e lesões relacionados à fadiga. As
horas a menos de sono também estão minando a concentração e o desempenho na
escola”, diz o médico.
Confira alguns dados que serviram para embasar a
recomendação das entidades de saúde:
· - Os adolescentes
necessitam de aproximadamente 9-10 horas de sono todas as noites (Carskadon,
2011);
· - O desenvolvimento
e as alterações fisiológicas no sono do adolescente contribuem para mudanças no
tempo de sono noturno, mas não necessariamente numa diminuição da necessidade
de sono (Carskadon, 2011);
· - O início do uso
de mídia eletrônica por adolescentes antes de dormir afeta a qualidade do sono
(Fundação Nacional do Sono, 2014);
· - Os pais /
encarregados de educação não têm conhecimento das necessidades de sono de
adolescentes e / ou a duração do sono dos adolescentes (Academia Americana de
Pediatria, 2014);
· - A imposição do
pai / responsável do horário de dormir durante toda a adolescência está
associada com a maior duração do sono (Short et al., 2011);
· - Começar o horário
escolar antes de 08:25 está associado com mais sono durante o período escolar
(Boergers, Gable, e Owens, 2014);
· - Adiar o horário
de início escolar está associado à melhora do humor e redução da sonolência
diurna (Boergers, Gable, e Owens, 2014);
· - Sono insuficiente
e padrões de sono / vigília irregulares estão associados com um risco aumentado
de sonolência durante o dia, dificuldades acadêmicas e emocionais, riscos de
segurança e doenças cardio-metabólicas (Academia Americana de Pediatria, 2014).
A Academia Americana de Pediatria sugere que a
razão para a privação de sono dos adolescentes é complexa. O fato é que a
maioria dos alunos do ensino médio, que estuda pela manhã, não termina o seu
dia quando as aulas terminam. Muitos deles estão envolvidos em atividades
extracurriculares promovidas pela escola ou indicadas pelos pais e
diversos trabalhos escolares que os obrigam a se manter acordados até tarde da
noite. Os adolescentes, em muitos lares, concluem o seu "dia de
trabalho" muito tempo depois que os adultos. “Por tais razões, corrigir o
problema do esgotamento do aluno também é complexo. As entidades de saúde
sugerem reexaminar a validade das demandas extracurriculares”, conta o pediatra, que também é membro do Departamento de
Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São
Paulo.
Mudanças
além do horário...
A escola é um bom lugar por onde começar essas
mudanças porque os potenciais benefícios estão bem documentados. Um estudo de três anos revelou que
as escolas que começaram suas atividades mais tarde viram um aumento no
desempenho e na frequência dos alunos, além de uma diminuição no atraso dos
estudantes, nos abusos de substâncias tóxicas e nos sintomas de depressão.
Os profissionais de saúde não são o único grupo nos
EUA pedindo horários de início tardio para as escolas. Os parlamentares
estão atentos ao tema também. A deputada Zoe Lofgren apresentou um projeto, em março deste ano, com o
objetivo de estudar se o adiamento das aulas para mais tarde provocaria efeitos
sobre a saúde dos estudantes do ensino médio e sobre o seu desempenho
acadêmico. Ela irá apresentar as conclusões ao Congresso.
Nos EUA, muitos passos estão sendo dados no mesmo
sentido: defender o direito dos adolescentes dormirem um pouco mais. Um documentário Race to Nowhere
revelou, recentemente, como a “cultura da educação” está cobrando um
pedágio caro demais sobre o bem-estar dos alunos e das comunidades. “O filme
deu origem a uma plataforma digital destinada a advogar por políticas escolares
que coloquem a saúde do aluno em primeiro lugar, incluindo práticas saudáveis
em casa e reformas no horário escolar. A equipe do filme envolveu-se
realmente com o tema e lançou uma campanha em favor do sono do adolescente, que
inclui um kit de ferramentas, fichas técnicas e outras informações para ajudar
as pessoas a defenderem junto às escolas os benefícios do horário tardio”,
conta Moises Chencinski.
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